Por Henrique Maynart
Saudações às
brutas, desdentadas, às que estão acima do peso. Saudações àquelas que não
carregam uma gota de delicadeza no trato e na pele, providas de sangue no olho
e cabelo na venta pra enfrentar os descalabros da sobrevivência. Saudações às
domésticas, às prostitutas da Praça dos três poderes e da Atalaia, as guardiãs
da Rua da Frente. As cobradoras de ônibus, as funcionárias do comércio, as
falsas bonecas que labutam nos shoppings e supermercados. Saudações às
lavadeiras, parteiras, às donas de birosca, às garçonetes. Saudações às
operárias do parque têxtil sergipano, morrendo a cada passo na linha de
montagem. Saudações às assediadas, às desvalidas.
Saudações às que gestam e
criam, sozinhas ou não. Saudações às que abortam e calam por medo, às que se emancipam da
vergonha e berram por suas vidas. Saudações às que gozam quando podem, quando
querem, quando der nos nervos. Saudações às que amam as mulheres e homens no
compasso dos suspiros.
Saudações às humanas que pelejam, organizadas ou
não, braços dados ou não. Não me cobrem elogio à fragilidade, à dita beleza de
nosso tempo, não me cobrem flores tampouco palavras doces de reconhecimento.
Não hei de saudar a submissão, a jornada tripla de trabalho travestida de
"polivalência"( olha, ela é trabalhadora e mãe, que fantástico não
é?). Não brado a emancipação que tarda em chegar reto na vida destas humanas.
Depositem as flores que recebem na boca do
cemitério ou no jardim de casa, hoje é dia de luta de mulheres e homens
de carne, osso e cabelo. As flores carecem de terra e água, nós carecemos de justiça, dignidade e direitos. A mão que oferece a flor pode ser, e geralmente é,
a mesma que afoga nossas agonias no tanque encharcado do patriarcado, nas
fogueiras, tribunais e inquisições da vida.
Oito de março, é tempo de saudar.
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