quinta-feira, 8 de março de 2012

Saudações de março

Por Henrique Maynart


Saudações às brutas, desdentadas, às que estão acima do peso. Saudações àquelas que não carregam uma gota de delicadeza no trato e na pele, providas de sangue no olho e cabelo na venta pra enfrentar os descalabros da sobrevivência. Saudações às domésticas, às prostitutas da Praça dos três poderes e da Atalaia, as guardiãs da Rua da Frente. As cobradoras de ônibus, as funcionárias do comércio, as falsas bonecas que labutam nos shoppings e supermercados. Saudações às lavadeiras, parteiras, às donas de birosca, às garçonetes. Saudações às operárias do parque têxtil sergipano, morrendo a cada passo na linha de montagem. Saudações às assediadas, às desvalidas. 


Saudações às que gestam e criam, sozinhas ou não. Saudações às que abortam e calam por medo, às que se emancipam da vergonha e berram por suas vidas. Saudações às que gozam quando podem, quando querem, quando der nos nervos. Saudações às que amam as mulheres e homens no compasso dos suspiros.

Saudações às humanas que pelejam, organizadas ou não, braços dados ou não. Não me cobrem elogio à fragilidade, à dita beleza de nosso tempo, não me cobrem flores tampouco palavras doces de reconhecimento. Não hei de saudar a submissão, a jornada tripla de trabalho travestida de "polivalência"( olha, ela é trabalhadora e mãe, que fantástico não é?). Não brado a emancipação que tarda em chegar reto na vida destas humanas. 

Depositem as flores que recebem na boca do cemitério ou no jardim de casa, hoje é dia de luta de mulheres e homens de carne, osso e cabelo. As flores carecem de terra e água, nós carecemos de justiça, dignidade e direitos. A mão que  oferece a flor pode ser, e geralmente é, a mesma que afoga nossas agonias no tanque encharcado do patriarcado, nas fogueiras, tribunais e inquisições da vida.

Oito de março, é tempo de saudar.

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