quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Desacato à homofobia: O crime de um beijo

                                                                                      Por Henrique Maynart*
Sexta-feira, 17 de fevereiro, primeira noite dos festejos momos de carnaval.  Ela, 25 anos, acompanhara as atrações da Pedro Calazans noite adentro. Ela, 32 anos, trabalhara até as primeiras horas da madrugada daquele sábado, pretendia gozar da ultima gota que sobrara da festa ao lado de seu afeto, nada mais razoável.  Assim como milhares de casais aracajuanos, aquelas duas seguiram o bom conselho da "Velha Marcha do Rasgadinho" de Deilson Pessoa, e partiram para o encontro na Praça da Bandeira, no olho da rua que abarcava as apresentações culturais.
Um abraço, um beijo e alguma alegria esboçada no rosto daquele encontro notívago.  Eis que ela é surpreendida por um tabefe seco pego de costas, o tapa seguro da mão de um policial militar do alto de sua viatura, automóvel sem o devido emplacamento tal como todas as viaturas da PM sergipana.  Ela partiu em defesa da companheira, “da próxima vez passa por cima”, bradou. Foi a deixa daqueles trabalhadores fardados, a cidade estava entregue ao crime.
Tenente Adilson, Soldado Castro, agentes da lei e da ordem. Desceram do alto da viatura, encaminharam aquelas duas ao vão próximo ao Box do policiamento da festa. Sessões de espancamento. Pontapés, puxões de cabelo, palavras de baixo calão. “Por que vocês estão fazendo isso?” gritava ela. “O que foi que fizemos?” suplicava a outra ela.  “Colocaram a gente dentro da viatura e no meio do caminho param. O tenente me entregou o meu "arco" e, no mesmo tempo, ele e o soldado me deram um tapa na cara. Nunca na minha vida fui tão humilhada”, afirmou.
Os dois oficiais encaminharam aquelas duas à delegacia plantonista da capital, provocam o boletim de ocorrência. Causa originária do boletim: Desacato à autoridade. “Eles disseram que foi desacato. No mesmo dia saímos com um BO assinado pelo delegado, autorizando a procurar o IML para fazer o exame de corpo de delito.” Não, não era o bastante. Saíram da plantonista, aturdidas, ela se atrapalha, se acidenta e fratura o braço.
Domingo, dois dias após o ocorrido, o casal se dirige ao Instituto Médico Legal. Não tinha médico, nada legal. Partiram para a Ouvidoria da Policia Militar, não havia que as ouvisse, sem funcionário. Dados confirmados pela Assessoria de Comunicação da PM. São orientadas a retornar na sexta-feira para o exame de corpo de delito e se dirigirem ao quartel da corporação, a fim de provocar a Corregedoria da Policia Militar. Sem médico mais uma vez na sexta-feira. Conseguem um laudo do Nestor Piva dias depois, laudo que fora encaminhado ao Juizado Especial Criminal de Aracaju- JECRIM. Informações desencontradas, serviço deficiente e a humilhação cravada no corpo daquelas duas. Instituição curiosa esta: Bate diligente, escuta às tabelas.
Ainda aturdidas, as duas denunciam a agressão ocorrida nas redes sociais, postando declarações e imagens do tratamento abusivo, tatuagens de uma noite de violência. O caso não emplacara a devida atenção na imprensa sergipana, salvo algumas matérias em um ou dois portais de noticias espalhados pelo estado.
A nossa insegurança
De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado no ano de 2011, os investimentos na pasta da Segurança Pública no estado de Sergipe obtiveram um crescimento de 48,36%, entre os anos de 2009 e 2010. O quadro salarial dos policiais militares e civis sergipanos conquistou um avanço importante, mas o esqueleto do maquinário continua o mesmo. Os homicídios aumentam 23% em Sergipe na mesma época. A taxa de assassinatos saltou de 27,5 mortes para cada 100 habitantes em 2009 para 33,8 homicídios em 2010. Parafraseando o colega Cristian Goes, o obvio: A cultura da violência só produz mais violência, e dentre elas o crime de beijar nossos amores em espaços públicos. Estruturação da pasta, garantia de carreira e formação humanizada a estes trabalhadores da segurança pública, fomentadores de uma cultura da violência inclusive contra si mesmos. Constituição de polícia única e desmilitarizada, fortalecimento dos conselhos comunitários de segurança pública.
 A aprovação da PEC 300, que garantiria o piso salarial nacional aos policiais militares, civis e bombeiros seria um passo importante neste sentido, mas esta PEC não se encontra na agenda de Dilma Roussef e no interesse de alguns governadores, dentre eles Jacques Vagner(PT-BA) e Sergio Cabral(PMDB-RJ), ironicamente os governadores dos estados que apresentam os maiores índices de homicídios e corrupção policial, Bahia e Rio de Janeiro.
Importante ressaltar que, no quadro atual, a PM sergipana desrespeita os padrões da Organização das Nações Unidas – ONU, que afirma que o número ideal de agentes em uma população deve ser de um para cada 250 habitantes. Este nosso estado a aplicação destes padrões corresponderia à um efetivo de 8.272 policiais militares, e que hoje conta apenas com um terço efetivo proposto pela organização internacional, cerca de 4 mil e quinhentos oficiais. Concurso público?
Um país homofóbico
De acordo com o relatório do Grupo Gay da Bahia-GGB, que apresenta dados relativos ao ano de 2011, o Brasil é o campeão mundial de assassinatos a homossexuais, os ditos crimes de ódio. Em 2011 foram contabilizadas 282 ocorrências de discriminação com base na orientação sexual pelo país afora. Dentre elas, 19,5% das agressões foram praticadas por órgãos e autoridades governamentais, em primeiríssimo lugar nas estatísticas.
Enquanto isso, em Brasília, a presidente Dilma articulou nos idos de 2011 o arquivamento do PLC 122, que previa para a criminalização da homofobia, juntamente com o senador Magno Malta (PR-ES), representante da bancada evangélica. Para os desavisados a bancada evangélica corresponde a segunda maior bancada do congresso nacional, logo atrás da eminente bancada ruralista. No início dos trabalhos parlamentares, o deputado goiano João Campos (PMDB) apresentou um projeto esta semana que pretende “permitir que a homossexualidade seja tratada como um transtorno passível de cura”.  Ou seja, trata-se de um projeto que trata a homossexualidade como patologia, fortalecendo a lógica homofóbica da intolerância.
 O projeto de lei vai de encontro à resolução 001/99 do Conselho Federal de Psicologia-CFP, que estabelece como paradigma à psicologia brasileira que a homossexualidade não seja enxergada como patologia, desautorizando os psicólogos brasileiros a submeter pacientes a qualquer “tratamento de cura à homofobia”.  O projeto conta com o apoio do conjunto da bancada evangélica no congresso, composta pelo deputado sergipano Pastor Heleno (PRB-SE). O parlamentar sergipano ainda não declarou ser favorável ou não ao referido projeto, mas se o deputado optar por seguir a bancada sem sombra de dúvidas dará o voto favorável ao projeto.  Ou seja, caso aquelas duas que sofreram abusos por parte da PM sergipana solicitassem acompanhamento psicossocial, elas poderiam ser recebidas por um terapeuta que, ao invés de lidar com o stress pós-traumático provocado pelos abusos, o profissional poderia muito bem voltar todos os conflitos presentes naquelas duas no intuito de “livrá-las da sua homossexualidade”. Pelo amor de deus. Amor, esta palavra custa nos dias de hoje.
E o povo no meio deste bolo todo?
Imaginem vocês, heterossexuais, cultivadores de seus amores, o quão desumano seria sentir qualquer coisa de pânico e temor dentro de seus corpos, pelo simples fato de carregar a mão de seus companheiros e companheiras em via pública? Imaginem a agonia daquelas duas, resguardadas no anonimato, em meio às agressões provocadas pela reação de uma bituca afetuosa.  Isso está certo?  Brado definitivamente que não. O estado é laico, garantamos a sua laicidade em todos os aspectos.
O melhor amigo do povo é o povo organizado, afirmação melhor não há. Os setores da sociedade civil organizada, o movimento LGBT precisa responder à altura e reivindicar, garantir as providências devidas junto às autoridades competentes. Um “beijaço” gay na porta da Secretaria de Segurança  Pública viria a calhar divinamente, fica a sugestão.  Que a Corregedoria da Policia Militar instaure inquérito, afaste os oficiais envolvidos e encaminhe as providências possíveis, que cumpram com as atribuições que lhe foram delegadas. Que aquelas duas, mulheres e sergipanas como todos nós, tenham pleno direito à indenização e atendimento psicossocial, que políticas de combate à homofobia tomem corpo e fôlego nas terras do surrado cacique Serigy. Que no estado de Sergipe ninguém ouse a prestar o boletim de ocorrência motivado pelo desacato à homofobia, que possamos viver e gozar plenamente dos nossos direitos e deveres, que possamos amar a mudar as coisas, que é o que interessa mais no final das contas.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Bêbados não mentem. A verdade é que entorpece.


Por Henrique Maynart


“Não repara naquilo que te falei ontem. Bebi demais, sabe como é, aquilo não é bem verdade...” Quem nunca recebeu esta ligação, torpedo, SMS ou pombo correio a qualquer hora do dia seguinte, seja ele qual for? Apois bem, sinto em lhe informar meu célebre amiguinho, coleguinha ou o raio que o parta, mas esta constatação não procede mas nem lascando a testa do mais distinto sóbrio da cidade, nem fudendo que a culpa é da cachaça. Digito estas sílabas na alcunha de roedor de bar e poeta menor de Facebook, de notívago desavergonhado de meus amores mais tronchos, dos causos espinhosos que acumulo no auge dos meus vinte e tantos anos de vida normal.

Pra começo de conversa: Não, não risco estas palavras sob efeito do álcool ou de qualquer composto alucinógeno. As únicas substâncias psicoativas que faço uso neste momento se restringem à nicotina de três ou quatro cigarros, pra esquivar do tédio e do sono que pesa nas pálpebras. Quem quiser retrucar fique a vontade, não sob este argumento. O que ocorre é que neste mundinho sacana, na pior acepção do termo, há pouco ou nenhum espaço para as verdades exclamadas do corpo quando nos encontramos desarmados por completo, quando nos desfazemos das armaduras do ofício, do uniforme de nossos papeis no decorrer da vida. Quando nos vemos bêbados, chapados, estamos desarmados em geral, resguardadas as devidas exceções, e falamos o que dá na telha, nos nervos e na língua. Fazemos muita cagada e acumulamos caralhadas de cocó, verdade seja dita, mas mentir a gente não mente não.

Não escrevo estas parcas silabas no intuito de fazer apologia ao consumo excessivo de álcool ou de qualquer substância alucinógena, lícita ou não. O alcoolismo e os casos crônicos de drogadição são imbróglios sociais muito delicados e complexos, não podemos perder a seriedade de vista. A pretensão aqui é de recuperar o elogio ao torpor que tanto nos falta nestes dias instrumentalizados e frios, desprovidos de humanidade em nossos cumprimentos gélidos. Entre a sobriedade e a ebriedade, para acabar de vez com esta falsa polarização, a melhor escolha é uma relação consciente e saudável com o ato de entorpecer, fazendo ou não uso de qualquer sustância. Os apaixonados perambulam por qualquer lugar no passo trôpego de trinta copos de cachaça chacoalhando no talo, não é verdade? Os trinta copos de cachaça da paixão, avassaladores, ninguém há de negar. Na meninice de outras épocas, a gente não rodava, rodava, até dar de bunda no chão, risonho e besta? A batida do tambor de roda, a grande maioria dos ritos religiosos, em todos estes casos a alteração do estado de consciência está presente, então guardemos na gaveta a falsa preocupação dos moralistas, tudo isso é torpor e ele existe desde que a humanidade se deu por gente.

Voltando a falar no bendito, quando o torpor entra na gente sem pedir licença o corpo se desarma, toma fôlego e abre o berreiro da vergonha alheia, da sua e da nossa. A carência chega junto, a saudade arrebata, escancarando a porteira da breguiçe que reside em algum canto escondido da gente. Torpor e repressão se combatem por essência, é aí que o bicho pega. Se aparece alguém interessante na outra mesa você dá um jeito de chamar a atenção, de chegar junto ou de despachar aquele SMS de guardanapo, geralmente inelegível e manchado de alguma coisa, sob a responsabilidade do melhor pombo correio da face da terra: O garçom. Se você não suporta aquele conhecido enfadonho, que brotou da terra sabe-se lá caralho como, você enche a boca de ofensa e o manda tomar no meio do seu elegante rabo, quando da próxima piadinha insossa que ele vier a soltar na mesa.

Telefone? Ai meu paradigma, nem encomendando oração pra Nossa Senhora da Luta de Classes que a gente se salva de cocó. A gente liga, manda mensagem, se estropia nas palavras e tropeça nas confissões. E digo mais, é lindo, é real. A gente recorre ao afago dos amigos e aos versos do finado Wando (visitarei seus ensinamentos em muitas fossas da vida, este texto é pra você) a gente se lasca e mal consegue pagar a conta no final da noite. Minha irmã me entope de palavrão até hoje por estourar os créditos dela com um antigo desafeto, nos idos de alguns anos atrás, bêbado escorado no banheiro do Casquinha, sem pai nem mãe nem vergonha. Isso, se papoquem de rir as duas, cocó pouca é bobagem. Eis que chega a hora de postar alguma coisa nas redes sociais, pai do céu. Recorro ao mesmo post pro facebook nestas horas, decifrável apenas a quem lhe apeteça. O twitter é mais complicado, nenhum moribundo consegue a façanha de acompanhar o desembesto daquela joça e resumir seus desígnios em 140 caracteres, não que eu conheça. Quem acompanha ou segue as proezas ébrias goza de uma vida repleta de gargalhadas, quem sofre mesmo é a gramática.

Portanto, se você receber aquela bendita ligação no meio da madrugada, ouvir aquela voz falha, soluçando carinho e arrotando borbulhas de amor, se você receber esta ligação não custe a acreditar, é a mais pura verdade. Se ele negar no outro dia o problema é dele, o que está dito não se arranca da memória, se negar não passa de uma criatura vil e covarde. A vida é dura e não cabe vacilo, sobretudo nos suspiros. Abstraia as cantadas de pedreiro e o riso sacana dos amigos ao fundo da ligação, a figura está na sua e não abre. Deleuze já preconizava que o amor é essa coisa meio demente, todos nós abarcamos alguma dose de demência e a vergonha não pode ficar no caminho. Quando aquilo que lateja no peito é maior que qualquer canto do mundo só o torpor há de salvar. Bêbados, falam merda, fazem merda às pencas, mas sinceridade nunca nos faltará. 

Trote: Com quantos quilos de medo se faz uma tradição?


Por Henrique Maynart*


O período letivo da universidade brasileira abre alas com o mesmo espetáculo mambembe, em cartaz há decadentes décadas, duas ou três mãos cheias de tempo e de tinta escorrendo nos dedos. Os calouros adentrando assustados, eufóricos, munidos com os previsíveis cadernos de matéria e trafegando em bando pelas instalações decadentes do Campus, o admirável mundo velho soprando bons e novos ares na face daqueles que ainda estão se habituando à nova credencial deferida: Discente, universitário.  Os certificados e colações de grau dos que partem pra nunca mais - ao menos boa parte- as andanças veteranas da primeira semana, das apresentações e rituais de iniciação.  E a vida vai seguindo na estação do ensino superior, no caso do Campus UFS São Cristóvão, a vida segue mesmo no decrépito terminal do Rosa Elze, enfurnando cansaço e correria entre um “Campus-Orlando Dantas” e um “Tijuquinha” qualquer, com dois “Eduardo Gomes” no meio temperando o atraso.  

Eis que chega a hora da tradição enfadonha, engenhosidade mórbida denominada trote. Possíveis definições: 1-Andadura natural das cavalgaduras, entre o passo ordinário e o galope. 2-Prova, brincadeira a que, nas escolas e universidades, os veteranos submetem os calouros. Saudações ao velho Aurélio de guerra. A primeira não cabe em nosso caso, se bem que as doses cavalares de repressão e intolerância não se encontram em falta nos campus brasileiros. Basta uma medida firme e audaz dos que lutam por uma educação pública, gratuita e de qualidade pra arrancar sem dó a máscara catedrática de alguns senhores, aparentemente sóbrios e distintos, daqueles que se apossam da comunidade acadêmica à custa de tudo e de todos, escancarando a face carcomida de nossos carrascos, do olhar em carne viva.

Arrodeios à parte partamos então para a segunda definição.  Coisa besta de se entender: Os veteranos, que em geral cursam do segundo ao quarto período,  sacaneiam os calouros com tinta, “prendas” ( nome mais patético) e ações inoportunas. Arrecadar dinheiro pra bancar a pinga surrada dos veteranos, rifa dos bichos, morrer afogado na piscina do campus, dentre outras atividades recreativas. Creia. Todo este calhamaço opressor pra marcar com a chave traumática de ouro a admissão ao ensino superior, para o gozo inferior dos veteranos rotineiramente sacaneados no ano passado por outros algozes, que, por conseguinte, seguiram achincalhados por outros predecessores, marcando o compasso torpe da violência de ano em ano, período a período.

Com quantos quilos de medo esta ação coletiva e desumana por tabela, fincada a ferro quente em nossos braços e pernas, alcançou o status de tradição em um ambiente que deveria, por excelência, marcar o lócus privilegiado da produção e reprodução formal de conhecimento?  Rituais de iniciação são típicos de um povo que se ressignifica a todo instante no passo da sobrevivência, da produção material e imaterial da vida social, mas nem todos se justificam e sem legitimam na cantilena imunda dos que sustentam qualquer tradição por sustentar, autômatos e fétidos de boca.

Não que o poder publico não cumpra com o seu papel de fiscalizar os excessos rituais, a fim de evitar os crimes hediondos e maiores abusos durante as calouradas, mas não basta e todos nós bem sabemos. Não que os referidos “trotes sociais” não carreguem a boa intenção de ajudar a quem quer que seja, uma instituição de caridade, uma ação de preservação da universidade e por aí vai, mas a perpetuação de uma prática que inferioriza e submete outras pessoas ao escárnio achincalhado, reprodutora de ações machistas e homofóbicas, que coisifica o corpo das mulheres e animaliza a todos em geral- daí a aplicação o termo “bichos”- é simplesmente inaceitável, repugnante, produtor de escarro. A raiz do problema é a raiz do fato. Sejamos radicais por excelência e essência, o velho Marx já preconizava.  

O movimento estudantil brasileiro e a comunidade acadêmica em geral não devem medir esforços, braços, dentes e músculos para acabar com a prática do trote. Não há possibilidade de ressignificação deste bruto ritual, falo isso com a boca cheia e segura dos radicais insistentes da vida. Universidade é, ou poder ser, o lócus da transformação, de conhecer o novo a todo instante, de produzir ciência, da criticidade desavergonhada, aquela criticidade fundamental na construção de uma outra sociedade, de outra vida, de outros afetos.  A vida já carrega muitos trotes nas costas: O trote de não ter professor disponível na sua disciplina ofertada, o trote de um projeto pedagógico atento apenas às demandas de um mercado cão, o trote de mais um corte bilionário e seqüencial para a pasta da educação pública, cortesia da Dilma Roussef, do reajuste da passagem, da privatização dos serviços acadêmicos, dos tubarões do ensino. Este escárnio todo que precisamos combater com a mesma diligencia, sangue no olho e cabelo na venta.

Termino de riscar estas parcas sílabas em direção aos calouros das instituições públicas e privadas, arremessadas nas ruas e avenidas: Sejam bem vind@s à universidade, briguem pelo seu curso e não se deixem animalizar por este troço nefasto chamado trote. Se te tratarem por bicho, sigam o conselho de George Orwel e organizem os demais bichos, rompam o dia, expulsem os humanos e tomem a fazenda de suspiro e assalto e, pelo amor de Marx, não abram espaço para um porco Napoleão qualquer controlar suas vidas. 

* Um sergipano muito do indignado com esta porcaria de trote

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A boa peleja dos netos de Aliete


Por Henrique Maynart*

A vida seguia estabanada e esvoaçante na época em que fui marcado naquele post  maldito e oportuno,   que resgatava os cheiros e as gaitadas,  as imagens e sons  de antigas euforias. Aquele post que raspava com a navalha do tempo, surpreso e esbaforido, o fundo carcomido do pote da memória. Facebook dos meus pecados.

 Todos devidamente marcados, identificados e intimados a curtir e comentar aquele encontro postado no mural de Gui, e ai de quem não agisse como manda a etiqueta das redes sociais. Era melhor curtir.  Tal como esperado todos os marcados curtiram, comentaram e reviveram aquela imagem, cada um a seu tempo. As cores parcas descoladas do papel de filme, as espinhas que habitavam o rosto, o semblante abobado daqueles moleques, todos saciados das pequenas delícias de um feriado sassaricado na malinagem e defumado na estufa do verão. Os mais novos devidamente posicionados no colo dos mais velhos, risonhos e pretos de sol.  Eu e Nana sentados na cadeira branca denotando uma falsa imponência, o resto de pé. Eu estava  trajando uma camisa preta em pleno domingo, a boina, os óculos de Pimba que sustento até estes dias - separando os olhos míopes do resto do mundo-  exalando a arrogância dos dissonantes e, pra fuleirar de vez com o que resta da minha dignidade,  com um dedinho na boca que punha em cheque a procedência da sexualidade.  Esta vocação pra dissidência ainda me mata.  Bem, ali estavam os netos de Aliete. Todos não, mas uma ruma boa.

Daquela foto brotava mais história que chuchu na cerca. As peladas na casa da praia, os banhos de mangueira, as peripécias de Brejo Grande, a patrulha salvadora na caça de “João da Lavina”, criatura célebre que aterrorizava a noite dos ribeirinhos à margem direita do Velho Chico.  Além do útero da mesma vó como ponto de partida para este mundo cão,  o útero gasto e surrado da única mulher sã que esta família produzira em três gerações, os netos de Aliete dividiam as camas, os livros do colégio, as revistinhas da turma da Mônica, alguns feitos heróicos e façanhas malinas, algumas bem malignas. Feitos dos tempos da fúria carola de tia Luizete (é, mamãe era foda nos castigos) das patadas desembestadas de tio Kiko  e do chinelo engatilhado da notável Silvana, a tia caçula e temida por todos nós,  que nunca vacilava quando se tratava em dar uma prensa na molecada.

Eis que, em meio àquele dejavú eletrônico coletivo,  surge a idéia de juntar a primaiada num canto só. O “Encontro dos Netos de Aliete”, que era pra juntar aquele bando de marmanjo espalhado no vento, enfurnados na urgência de engolir o pão amassado pelo “coisa ruim” e garantir a sobrevida do mês, pra poder respirar até morrer sem direito a um suspiro qualquer. Evento no facebook, slogan e mote: Corra que Tia Silvana vem aí! Tudo cortesia da Maynart Produções!  Nosso Negócio é um espetáculo, mas nossa receita é uma tragédia  (Chupa essa Del!), tudo nos trinques. Providos de algum alvoroço e tomados pela disposição,  a primaiada sela o bendito do dia, hora e local do tão entusiasmado encontro.  Dez de dezembro em Brejo Grande na comemoração da festa da padroeira:  Nossa Senhora da Conceição, Oxun para os umbandistas e candomblecistas. Ê Brejo Grande, coração da foz do Velho Chico, berço de uma fatia generosa da infância daqueles marmanjos.
Eis que a data embalada por todos nós chacoalhou meu corpo fatigado naquela manhã de sábado.  Cabeça estalada, boca seca e sono de sobra. Ressaca do cão. Posto os pés na quentura regimental de Brejo Grande, a casa de vó - na esquina em frente à Praça da luz, no bar de finada Dolores-  foi a nossa concentração.  A primaiada ia chegando, se abraçando e abarcando sua respectiva lata de cerveja. Ali não tinha nome nem oficio nem status, só  histórias e os velhos apelidos de infância, carinhosos e vergonhosos por natureza.  Codinomes de outros tempos.

 Assim como em qualquer narrativa o encontro carregava seus próprios personagens. Del era o mais velho dali, o que transpirava algum respeito e lhe acarretava alguma responsabilidade sobre os demais. Das figuras mais cômicas que já vi neste mundo.  O cara que me fizera pisar no Batistão pela primeira vez, os pés ainda meninos, pra ver um Sergipe e Confiança qualquer.  As primeiras revistinhas de putaria que li foram as dele.  Estava acompanhado de Acácia, amor recente, a fim de revelar à moça as raízes de seu sorriso falho, dos olhos esbugalhados e da cabeça grande que carrega sobre os ombros. Uma tática simples de se entender: “Se ela agüentar este bando de marmanjo amarelo sem dar um pio a gente casa em dois tempos”. Acho que deu certo, aguardo o convite pro ajuntamento.

Rafinha era, digamos assim, o “arquiteto meio lelé” do comboio. Cara legal, inteligente e esforçado, meio estabanado também. Hoje está forte feito um boi, mas na infância me rendera bons caldos na piscina. Aquele ali sofreu na minha mão.  Miguelzinho é o novo Bad Boy da primaiada, tomou meu posto e eu nem havia reparado.  Olhar cerrado e peito estufado, a boca saliente e uma disposição pra pista que só ele.  Alfredinho, irmão do Bad Boy, é o mais recluso de todos. Pouca fala da voz grossa, o riso crente que incomoda algo, alguém ou a ele mesmo no ato de escancarar os dentes. Pouco  bebe, pouco conversa e lê às pencas. Julinha, galega esguia dos olhos da cor do Velho Chico na hora da cheia, era a caçula do bando e a única mulher dentre os primos. Espírito de pagodeira no auge do fervor colegial. Costumava brincar de cavalinho no meu ombro quando ainda miúda, galopando nas dependências da antiga casa da Rafael de Aguiar, capaz de  lembrar. Os filhos do visigodo tio Kiko, visigodo e astuto na mesma medida do paradoxo.  Lucianinho me pareceu o mais centrado dos primos. Baixinho, truncado e de olhar minguado, sóbrio e sereno, calculando até o mais singelo aperto de mão. Gorete, sua companheira, segue o mesmo compasso no trato. Casal simpático.

Gui sempre teve pinta de primo prodígio. Filho de tia Rita, madrinha queridíssima de quase todos os primos, inclusive deste que vos digita. Riso fácil de arrancar e algumas tiradas bem fantásticas em meio a um gole e outro de cerveja, puxara a malandragem de Del e a gentileza de Nana. Moleque bom.  E finalmente este que vos digita, escrevinhador imberbe com alguma fama de marginal, boca suja e pouca paciência.

Bebemos, rimos e nos revisitamos em meio à imponente mesa na cozinha de vó, daquela casa antiga que carregava o aroma acumulado de outras vidas. As canecas de louça de vô na sala, as velas e imagens de Cristo na companhia feminina de algumas Nossas Senhoras,  disputando espaço no santuário na base do tapa.  Casa de interior, quartos grandes e sala reta, dorso comprido, o azulado claro dos azulejos grudados na parede velha. A pia de mão ao lado da mesa da cozinha. Os gaiamuns no quintal, os pés de carambola do outro lado do muro, as mesmas árvores responsáveis por algumas fugidas e joelhos ralados. Fruta roubada é mais gostosa. As galinhas de finada Dolores, velhinha doce que só ela, abria o quintal pra que ajudássemos a jogar o milho e saciar a fome das danadas das galinhas. Do lado de fora o mais do mesmo. As ruas estreitas, a bosta de cavalo e o olhar vigilante das senhoras escoradas na janela.  Informantes assíduas e diligentes de vó. “Olhe, os meninos de Aliete bebendo a esta hora da tarde!” Ruma de futriqueira, bom de arranjar uma trouxa de roupa pra desocupar a mente dos comentários sórdidos. Os carroceiros de sempre, as carroças que corríamos pra pegar o vácuo e curtir uma carona até lugar nenhum. Nana sempre se estropiava nestas horas, nunca vi ninguém com tanta facilidade pra dar de bunda no chão. 
Fiquei de partir nas primeiras horas de sol do domingo seguinte, perdi a hora,  os compromissos e a oportunidade de fugir de mais uma chamada de  minha organização. Estava na merda, chafurdemos então. Estava agendado para aquele dia o passeio de tototó até o Cabeço,  junto com os primos, os primos dos primos, os observadores permanentes e uma figura mórbida que respondia pela graça de “Beleu”, moribundo de procedência duvidosa e de empatia deplorável. A aparência tão bela quanto o apelido. Trocando em miúdos, um cara chato, feio pra caralho e que brotou da terra naquele tototó.

Encharcados de álcool no isopor que mais parecia uma tartaruga, embarcamos  no distinto tototó de “Seu Jorge” e  saímos deslizando pelo Velho Chico em direção à foz da banda alagoana do rio. As mangueiras naturais no caminho, o rajado incômodo do motor, o excesso no corpo e um sol satânico sobre nossas cabeças. Finalmente decidiram ligar o som, fudeu.  Me recolho solenemente à minha chapação por boa parte do tempo, a água da garrafa que acompanhava o tremido do motor,  os compromissos perdidos e os desafetos que me aguardavam na volta para Aracaju.  Com o destino na ponta dos olhos estava na hora do tradicional pulo antes do desembarque e  alcançar a margem a nado.  Zarpamos eu, Gui e Del.  O problema de revisitar os afãs de outros tempos é que, geralmente, no presente a mente e o corpo são de fato diferentes, Belchior estava certo mais uma vez. Não se trata mais daquele corpo e daquele fôlego juvenil que transformava algumas braçadas em moleza, e assim foi. Quase morremos os três, mas finalmente alcançamos a areia da foz, assustados, fudidos e arrombados.  Experiência de Quase Morte.

O dia seguiu no compasso dos excessos e da fuleiragens familiares. Um primo tal que era conhecido por “JG” na família, aquela aventura sexual a quatro dentro de um chiqueiro, outro que fora encontrado compartilhando prazer bem debaixo do caminhão, pense numa vontade de fuder que não passa.  Umas histórias envolvendo o queijo do Poly Dance e um primo ciumento,  aquele cacete homérico que reunira quase todo mundo há cerca de dois anos a custa de um  pinguço de Piaçabuçu  que, sem lenço  nem documento, incomodava Julinha e provocava Lucianinho ao mesmo passo. Aquele ali apanhou como cachorro.  Excessos e fuleiragens, fuleiragens e excessos,  e o feriado  escorreu como de costume. De volta ao QG de vó, pra fechar com maestria os trabalhos do Encontro dos Netos de Aliete, o rango mais saboroso de todos os tempos, ao menos de todos aqueles dias, cortesia de dona Telma. Não restou pra quem vacilasse. Tempero da terra popularmente conhecido como Larica. Encharcamos a boca  de feijão e carne do sol, cabeça cheia e barriga vazia dá nisso. 

Comemos, dormimos, despertamos e pegamos o caminho de volta às alucinações do mundo cão, dos horários e compromissos, das contas e correntes. Boa peleja aquele enlace dos filhos das tias, dos sobrinhos e afilhados oriundos do útero de vó.  Combinamos o mote do segundo encontro, desta vez em Aracaju, a fim de viabilizar o resto da primaiada ausente em Brejo Grande.  De volta aos nomes e ofícios, às preocupações mundanas do imediato.  Um mundo que não abarca nossos codinomes e malinagens perdidas no elo de nossa infância, onde os conflitos e primazias transcendem a dúvida entre brincar na rua de baixo ou na rua de cima. No estalar das coisas me convenço de que aquele encontro nadava contra a correnteza dos tratos insossos dos dias de hoje, de encontro ao tempo, ao espaço, ao templo de saudações convenientes. Boa peleja aquela dos netos de Aliete, humanizar é preciso.  

Primos, é sempre bom tê-los, conhecê-los de verdade. Se os tiver, não os perca de vista.

*Jornalista, neto de Aliete, filho de Luizete e afilhado de Rita. Codinome Quinho.



sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sexo e Ressaca: Um diálogo possível










Por Henrique Maynart*

“Nada melhor que tomar outra por cima pra curar a ressaca”. Quem nunca foi agraciado por este conselho após abrir os olhos desabando nos excessos do dia anterior? Curtidor de cana que se preze sabe de “có” e salteado que este conselho, incrivelmente válido e recomendado, não passa de um paliativo muito do safado. Sua ressaca acumula para o outro dia, o alambique do estômago tende a fermentar mais e melhor tudo o que tiver dentro, e o resultado do fermento todos nós já conhecemos o destino: o vaso sanitário de cada dia. Se você precisa de um argumento- supostamente bem fundado- para se convencer a continuar bebendo ótimo- se não precisou um dia há de precisar- até porque a proeza da auto-enganação não tem quem pague. Bom que só ele, verdade seja dita, mas ressaca que é bom este conselho não dá cabo nem fazendo reza.

Se você realmente quer se livrar desta megera indomada, embrulhadora de estômago e estaladora de testa, não caia no conto do Engov e nem passe o dia inteiro rasgando a goela na dedada, desperdiçando a comida e a cachaça que você já pagou. Ao invés de “tomar outra”, tente “dar uma”. Chá de boldo também ajuda a enviar esta maldita pra onde ela merece, mas não chega nem aos pés de uma trepada ressacada e preguiçosa. Não tem água de março que feche tão bem o verão da esbórnia quanto esta experiência.

Sexo de ressaca pode ser algo tão útil quanto gostoso. O corpo se movimenta, a adrenalina rebate a preguiça, a pele está mais suscetível ao toque, dentre outros elementos que podem transformar a sua destruição em algo que preste. Na verdade toda e qualquer atividade física contribui para aliviar a bendita, mas entre querer e poder há um abismo do tamanho de nossa enxaqueca, e quero ver o(a) desgraçado(a) que recuse o bom e velho picote. Já adianto que masturbação não conta, jogo é jogo e treino é treino, tem que envolver reconhecimento de corpos, exploração das divisas. O máximo que se consegue “batendo uma” de ressaca é ter mais preguiça de viver, mas aí fica por conta e risco de quem quiser experimentar.

A pedra fundamental do sexo ressacado é a cadência. Nada de babilônia rodando a casa, estripulias carnavalescas, nada de embolações mais complexas e adjacentes, ao menos no começo de tudo. A caminhada começa devagar, convencendo o corpo- flagelado e deflorado pelo álcool- que não se pode perder de vista o movimento, fatiando o cansaço e tapeando a preguiça pelas beiradas. Se você bebeu cerveja na noite anterior o corpo estará mais seco que ameixa de fim de festa, já que a cerveja é uma das opções mais diuréticas da esbórnia, então todo cuidado com a lubrificação é pouco. Não precisa abrir a camisinha logo de supetão, quem gosta de pressa é caixa de supermercado. É importante deixar água sempre por perto. Para além de hidratar o corpo tão castigado pelas peripécias de uma noite insana, lubrificar a língua e os lábios é o ponto de partida para desaguar o resto do corpo, e para bom entendedor meia palavra basta. Devagar e sempre, amém. Se o estômago embrulhar diminua a velocidade ou dê um tempo, e água pra que te quero. Por isso é importante evitar movimentos bruscos no início, acostumando o estômago passo a passo, por mais que sua instiga grite pelo contrário.

Se você é fumante não caia na conversa do cigarro pós-foda. Isso é baboseira da Sousa Cruz e pode jogar todo o prazer conquistado na latrina vomitada da decepção. A água já está em falta, não piore a situação. Seu paladar e seu olfato estarão bem prejudicados pelo efeito rasgado da combinação álcool-nicotina, então aposte no tato, nas mensagens dos sussurros e suspiros, lembrando sempre que ninguém gosta de ar-condicionado ou purificador de ar pinicando no ouvido. Uma coisa que realmente incomoda é o hálito, mas escovar os dentes pode ser perigoso a depender o grau de ingerência do dia anterior, então aposte na água e algumas frutas. Se a noite tiver rendido alguns tributos ao bom e velho “Raulll”, é aconselhado alguns gargarejos. O mesmo serve para as balinhas de menta e hortelã, e se você foi agraciado pela “Palhinha” aí é que a porca torce de vez o rabo do enjôo. Mas se você está cagando e andando pra todo este calhamaço de frescura, e acha que “quem ta no rock é pra se fuder”, então meus parabéns! Sua atitude é admirável, mas eu tenho pena do corno do seu dentista, se é que você tem um…

Dar cabo da lubrificação não significa obrigatoriamente que você precisa fazer ou receber sexo oral. Sem dúvida esta é a melhor situação, mas a depender do estado de destruição do corpo o resultado pode ser constrangedor- assim como em qualquer outro contexto, mas a insanidade que paira em algumas noites não perdoa. Sexo oral é foda, eu mesmo peno em abrir mão, mas se o olfato alertar algo estranho não arrisque. Não se esqueça que a pele é o maior órgão do corpo e tem muita seara para conhecer e deliciar.

O orgasmo pode variar bastante. Tem gente que consegue extrair gozadas homéricas em meio à ressaca, tem gente que faz vergonha até pro Zé gotinha, mas o importante de tudo não é o resultado e sim o processo. O corpo responde melhor, você ganha mais disposição pra estudar, trabalhar, tomar cachaça ou continuar extraindo e compartilhando as delícias do corpo alheio, tudo varia de acordo com sua agenda e disposição. O cansaço continua dando o tom do dia, mas ele ganha outros contornos. Nada que um cochilo ou um bom arroto de coca-cola não alivie o peso.

Agora, se o seu estado de ebriedade te encomendou a pessoa errada pra passar a noite, a ressaca moral há de ser sanada por outros caminhos, e o sexo não precisa pagar o pato da sua má escolha ou falta de opção. Diga que foi carência, que não se lembra do que fez, que se confundiu, o caralho a quatro e a buceta a doze, mas a figura ainda estará ali na sua cama, lembrando a todo tempo da grande cagada que você fez ou que está prestes a fazer. Nestas horas vale a sabedoria pujante dos ditados populares: “O que é um peido pra quem está cagado?” Se você já arranjou esta manga pra chupar, por que não usá-la pra curar sua ressaca? Fica a dica.

* Jornalista, cachaceiro e safado.