sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sexo e Ressaca: Um diálogo possível










Por Henrique Maynart*

“Nada melhor que tomar outra por cima pra curar a ressaca”. Quem nunca foi agraciado por este conselho após abrir os olhos desabando nos excessos do dia anterior? Curtidor de cana que se preze sabe de “có” e salteado que este conselho, incrivelmente válido e recomendado, não passa de um paliativo muito do safado. Sua ressaca acumula para o outro dia, o alambique do estômago tende a fermentar mais e melhor tudo o que tiver dentro, e o resultado do fermento todos nós já conhecemos o destino: o vaso sanitário de cada dia. Se você precisa de um argumento- supostamente bem fundado- para se convencer a continuar bebendo ótimo- se não precisou um dia há de precisar- até porque a proeza da auto-enganação não tem quem pague. Bom que só ele, verdade seja dita, mas ressaca que é bom este conselho não dá cabo nem fazendo reza.

Se você realmente quer se livrar desta megera indomada, embrulhadora de estômago e estaladora de testa, não caia no conto do Engov e nem passe o dia inteiro rasgando a goela na dedada, desperdiçando a comida e a cachaça que você já pagou. Ao invés de “tomar outra”, tente “dar uma”. Chá de boldo também ajuda a enviar esta maldita pra onde ela merece, mas não chega nem aos pés de uma trepada ressacada e preguiçosa. Não tem água de março que feche tão bem o verão da esbórnia quanto esta experiência.

Sexo de ressaca pode ser algo tão útil quanto gostoso. O corpo se movimenta, a adrenalina rebate a preguiça, a pele está mais suscetível ao toque, dentre outros elementos que podem transformar a sua destruição em algo que preste. Na verdade toda e qualquer atividade física contribui para aliviar a bendita, mas entre querer e poder há um abismo do tamanho de nossa enxaqueca, e quero ver o(a) desgraçado(a) que recuse o bom e velho picote. Já adianto que masturbação não conta, jogo é jogo e treino é treino, tem que envolver reconhecimento de corpos, exploração das divisas. O máximo que se consegue “batendo uma” de ressaca é ter mais preguiça de viver, mas aí fica por conta e risco de quem quiser experimentar.

A pedra fundamental do sexo ressacado é a cadência. Nada de babilônia rodando a casa, estripulias carnavalescas, nada de embolações mais complexas e adjacentes, ao menos no começo de tudo. A caminhada começa devagar, convencendo o corpo- flagelado e deflorado pelo álcool- que não se pode perder de vista o movimento, fatiando o cansaço e tapeando a preguiça pelas beiradas. Se você bebeu cerveja na noite anterior o corpo estará mais seco que ameixa de fim de festa, já que a cerveja é uma das opções mais diuréticas da esbórnia, então todo cuidado com a lubrificação é pouco. Não precisa abrir a camisinha logo de supetão, quem gosta de pressa é caixa de supermercado. É importante deixar água sempre por perto. Para além de hidratar o corpo tão castigado pelas peripécias de uma noite insana, lubrificar a língua e os lábios é o ponto de partida para desaguar o resto do corpo, e para bom entendedor meia palavra basta. Devagar e sempre, amém. Se o estômago embrulhar diminua a velocidade ou dê um tempo, e água pra que te quero. Por isso é importante evitar movimentos bruscos no início, acostumando o estômago passo a passo, por mais que sua instiga grite pelo contrário.

Se você é fumante não caia na conversa do cigarro pós-foda. Isso é baboseira da Sousa Cruz e pode jogar todo o prazer conquistado na latrina vomitada da decepção. A água já está em falta, não piore a situação. Seu paladar e seu olfato estarão bem prejudicados pelo efeito rasgado da combinação álcool-nicotina, então aposte no tato, nas mensagens dos sussurros e suspiros, lembrando sempre que ninguém gosta de ar-condicionado ou purificador de ar pinicando no ouvido. Uma coisa que realmente incomoda é o hálito, mas escovar os dentes pode ser perigoso a depender o grau de ingerência do dia anterior, então aposte na água e algumas frutas. Se a noite tiver rendido alguns tributos ao bom e velho “Raulll”, é aconselhado alguns gargarejos. O mesmo serve para as balinhas de menta e hortelã, e se você foi agraciado pela “Palhinha” aí é que a porca torce de vez o rabo do enjôo. Mas se você está cagando e andando pra todo este calhamaço de frescura, e acha que “quem ta no rock é pra se fuder”, então meus parabéns! Sua atitude é admirável, mas eu tenho pena do corno do seu dentista, se é que você tem um…

Dar cabo da lubrificação não significa obrigatoriamente que você precisa fazer ou receber sexo oral. Sem dúvida esta é a melhor situação, mas a depender do estado de destruição do corpo o resultado pode ser constrangedor- assim como em qualquer outro contexto, mas a insanidade que paira em algumas noites não perdoa. Sexo oral é foda, eu mesmo peno em abrir mão, mas se o olfato alertar algo estranho não arrisque. Não se esqueça que a pele é o maior órgão do corpo e tem muita seara para conhecer e deliciar.

O orgasmo pode variar bastante. Tem gente que consegue extrair gozadas homéricas em meio à ressaca, tem gente que faz vergonha até pro Zé gotinha, mas o importante de tudo não é o resultado e sim o processo. O corpo responde melhor, você ganha mais disposição pra estudar, trabalhar, tomar cachaça ou continuar extraindo e compartilhando as delícias do corpo alheio, tudo varia de acordo com sua agenda e disposição. O cansaço continua dando o tom do dia, mas ele ganha outros contornos. Nada que um cochilo ou um bom arroto de coca-cola não alivie o peso.

Agora, se o seu estado de ebriedade te encomendou a pessoa errada pra passar a noite, a ressaca moral há de ser sanada por outros caminhos, e o sexo não precisa pagar o pato da sua má escolha ou falta de opção. Diga que foi carência, que não se lembra do que fez, que se confundiu, o caralho a quatro e a buceta a doze, mas a figura ainda estará ali na sua cama, lembrando a todo tempo da grande cagada que você fez ou que está prestes a fazer. Nestas horas vale a sabedoria pujante dos ditados populares: “O que é um peido pra quem está cagado?” Se você já arranjou esta manga pra chupar, por que não usá-la pra curar sua ressaca? Fica a dica.

* Jornalista, cachaceiro e safado.


Um comentário:

  1. Texto do caralho de tão bom.
    Muito bem escrito e ainda tem ótimas tiradas. Haha.

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