Por Henrique Maynart*
“Nada melhor que tomar outra por cima pra curar a
ressaca”. Quem nunca foi agraciado por este conselho após abrir os olhos
desabando nos excessos do dia anterior? Curtidor de cana que se preze sabe de
“có” e salteado que este conselho, incrivelmente válido e recomendado, não
passa de um paliativo muito do safado. Sua ressaca acumula para o outro dia, o
alambique do estômago tende a fermentar mais e melhor tudo o que tiver dentro,
e o resultado do fermento todos nós já conhecemos o destino: o vaso sanitário
de cada dia. Se você precisa de um argumento- supostamente bem fundado- para se
convencer a continuar bebendo ótimo- se não precisou um dia há de precisar- até
porque a proeza da auto-enganação não tem quem pague. Bom que só ele, verdade
seja dita, mas ressaca que é bom este conselho não dá cabo nem fazendo reza.
Se você realmente quer se livrar desta megera
indomada, embrulhadora de estômago e estaladora de testa, não caia no conto do
Engov e nem passe o dia inteiro rasgando a goela na dedada, desperdiçando a
comida e a cachaça que você já pagou. Ao invés de “tomar outra”, tente “dar
uma”. Chá de boldo também ajuda a enviar esta maldita pra onde ela merece, mas
não chega nem aos pés de uma trepada ressacada e preguiçosa. Não tem água de
março que feche tão bem o verão da esbórnia quanto esta experiência.
Sexo de ressaca pode ser algo tão útil quanto
gostoso. O corpo se movimenta, a adrenalina rebate a preguiça, a pele está mais
suscetível ao toque, dentre outros elementos que podem transformar a sua
destruição em algo que preste. Na verdade toda e qualquer atividade física contribui
para aliviar a bendita, mas entre querer e poder há um abismo do tamanho de
nossa enxaqueca, e quero ver o(a) desgraçado(a) que recuse o bom e velho
picote. Já adianto que masturbação não conta, jogo é jogo e treino é treino,
tem que envolver reconhecimento de corpos, exploração das divisas. O máximo que
se consegue “batendo uma” de ressaca é ter mais preguiça de viver, mas aí fica
por conta e risco de quem quiser experimentar.
A pedra fundamental do sexo ressacado é a cadência.
Nada de babilônia rodando a casa, estripulias carnavalescas, nada de embolações
mais complexas e adjacentes, ao menos no começo de tudo. A caminhada começa
devagar, convencendo o corpo- flagelado e deflorado pelo álcool- que não se
pode perder de vista o movimento, fatiando o cansaço e tapeando a preguiça
pelas beiradas. Se você bebeu cerveja na noite anterior o corpo estará mais
seco que ameixa de fim de festa, já que a cerveja é uma das opções mais
diuréticas da esbórnia, então todo cuidado com a lubrificação é pouco. Não precisa
abrir a camisinha logo de supetão, quem gosta de pressa é caixa de
supermercado. É importante deixar água sempre por perto. Para além de hidratar
o corpo tão castigado pelas peripécias de uma noite insana, lubrificar a língua
e os lábios é o ponto de partida para desaguar o resto do corpo, e para bom
entendedor meia palavra basta. Devagar e sempre, amém. Se o estômago embrulhar
diminua a velocidade ou dê um tempo, e água pra que te quero. Por isso é
importante evitar movimentos bruscos no início, acostumando o estômago passo a
passo, por mais que sua instiga grite pelo contrário.
Se você é fumante não caia na conversa do cigarro
pós-foda. Isso é baboseira da Sousa Cruz e pode jogar todo o prazer conquistado
na latrina vomitada da decepção. A água já está em falta, não piore a situação.
Seu paladar e seu olfato estarão bem prejudicados pelo efeito rasgado da
combinação álcool-nicotina, então aposte no tato, nas mensagens dos sussurros e
suspiros, lembrando sempre que ninguém gosta de ar-condicionado ou purificador
de ar pinicando no ouvido. Uma coisa que realmente incomoda é o hálito, mas
escovar os dentes pode ser perigoso a depender o grau de ingerência do dia
anterior, então aposte na água e algumas frutas. Se a noite tiver rendido
alguns tributos ao bom e velho “Raulll”, é aconselhado alguns gargarejos. O
mesmo serve para as balinhas de menta e hortelã, e se você foi agraciado pela
“Palhinha” aí é que a porca torce de vez o rabo do enjôo. Mas se você está
cagando e andando pra todo este calhamaço de frescura, e acha que “quem ta no
rock é pra se fuder”, então meus parabéns! Sua atitude é admirável, mas eu
tenho pena do corno do seu dentista, se é que você tem um…
Dar cabo da lubrificação não significa
obrigatoriamente que você precisa fazer ou receber sexo oral. Sem dúvida esta é
a melhor situação, mas a depender do estado de destruição do corpo o resultado
pode ser constrangedor- assim como em qualquer outro contexto, mas a insanidade
que paira em algumas noites não perdoa. Sexo oral é foda, eu mesmo peno em
abrir mão, mas se o olfato alertar algo estranho não arrisque. Não se esqueça
que a pele é o maior órgão do corpo e tem muita seara para conhecer e deliciar.
O orgasmo pode variar bastante. Tem gente que
consegue extrair gozadas homéricas em meio à ressaca, tem gente que faz
vergonha até pro Zé gotinha, mas o importante de tudo não é o resultado e sim o
processo. O corpo responde melhor, você ganha mais disposição pra estudar,
trabalhar, tomar cachaça ou continuar extraindo e compartilhando as delícias do
corpo alheio, tudo varia de acordo com sua agenda e disposição. O cansaço
continua dando o tom do dia, mas ele ganha outros contornos. Nada que um
cochilo ou um bom arroto de coca-cola não alivie o peso.
Agora, se o seu estado de ebriedade te encomendou a
pessoa errada pra passar a noite, a ressaca moral há de ser sanada por outros
caminhos, e o sexo não precisa pagar o pato da sua má escolha ou falta de
opção. Diga que foi carência, que não se lembra do que fez, que se confundiu, o
caralho a quatro e a buceta a doze, mas a figura ainda estará ali na sua cama,
lembrando a todo tempo da grande cagada que você fez ou que está prestes a
fazer. Nestas horas vale a sabedoria pujante dos ditados populares: “O que é um
peido pra quem está cagado?” Se você já arranjou esta manga pra chupar, por que
não usá-la pra curar sua ressaca? Fica a dica.
* Jornalista, cachaceiro e safado.
Texto do caralho de tão bom.
ResponderExcluirMuito bem escrito e ainda tem ótimas tiradas. Haha.